Defumação gratuíta

Ah Domingo… Delírio de todos os seus vizinhos, pesadelo dos mocinhos.

O dia em que você capricha no visual para encontrar a ‘galera’ e quando bota o pé na rua, é defumado como peito de peru.

Cheiro do shampoo? Nunca mais.

Perfume caro? Adeus...

Roupas perfumadas? Jamais!

Você é batizado por uma cortina cinza, beijado pela costela, abraçado pela maninha, fisgado pela picanha.

Não há método no mundo que retiro o cheiro da gordura e do carvão das entranhas; o eu-lírico fede, a alma fede. Você se torna uma televisão de cachorro ambulante.

Qual a atração pela fumaça nossos vizinhos tem? O que os torna imãs de farofadas?

Coitadas de nossa mãe, que ao vento deixou os lençóis brancos e úmidos para serem secos, e logo são abraçados pela fumaça. O pátio se transforma numa maratona, ela deve chegar primeiro que a defumação “churrasquenta”.

Como se já não bastasse atiçar toda renite e asmas, todas as mães e lençóis, toda roupa limpa e caprichada, nossos ouvidos são feridos.

O vitrolão sai do armário. Todas as duplas sertanejas voltam, fazem as pazes. O sertanejo universitário mixado, talvez um “abra suas asas, solte suas feras...”, ou “macho macho man” e até mesmo “hey Mararena” apareçam sem ao menos haver uma festa anos 80.

Como se isso tudo já não bastasse, ele faz back vocals junto errando cada segundo da música.

Alguém me diga o que há de bom num domingo, sendo que o próximo dia é segunda-feira.